segunda-feira, 31 de março de 2025
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
A costureira
domingo, 3 de novembro de 2024
sábado, 2 de novembro de 2024
CAETANEANDO (Ema Viana)
do avesso do avesso do avesso
de certo avesso errado certo
ou não
Pleito
P(h)onte
Ex-passo
domingo, 17 de março de 2024
ACADEMIA DA PERFEIÇÃO
quinta-feira, 18 de janeiro de 2024
DA LUA AO CHÃO
viagens intergalácticas
suaves voos de pássaro
braços de bem-amada
a inteiro envolver-me
num acalanto sem par.
súbito, os olhos me vão
da lua ao chão.
o pé direito
tenho-o imerso
em ignorada substância
de amarelo aspecto.
pisei (n)o cocô!
pisei (n)o cocô
e não sei que fazer
água por perto não vejo
não vejo pano ou sabão
com que me possa limpar.
pisei (n)o cocô
enquanto sonhava
pisei (n)o cocô
e estava descalço
pisei (n)o cocô
e não sei que fazer.
amiga, me diga:
amputo este pé
ou pisando (n)a merda
aprendo a viver?
P.S.: os parênteses vão para os puritanos patrulheiros do idioma; o poema, para os coiotes (nome do grupo literário dos tempos da faculdade).
Odisseia da instante (Ema Viana)
sexta-feira, 17 de novembro de 2023
GUIA
a espontânea luz da infância nos teus olhos
saltita, rola, dá cambalhotas
cai, levanta, estranha, zanga
e volta sempre a brincar
a espontânea luz da infância nos teus olhos
espraia-se infinito
iluminando campos de alegria
voltamos com a tua luz guia
à criança que fomos um dia
domingo, 17 de setembro de 2023
sexta-feira, 14 de julho de 2023
terça-feira, 27 de junho de 2023
A PODA DO LIMOEIRO
Ouça aqui bem, meu amigo,
O que lhe tenho a contar.
O meu limoeiro antigo
Cedo cuidei de podar.
A tesoura então eu peguei
Para os seus galhos cortar
E estranha coisa topei.
Passo agora a relatar.
Veja, meu amigo, você
Pode até não acreditar.
Era tamanho GG
Do design nem vou falar.
Cerzida em tecido rosa
Com o verde a contrastar
Coisa mesmo curiosa
Para num limoeiro estar.
Ei-la diante de mim
Se me dando ao olhar.
Tomou-me a dúvida assim:
"Devo pegar, não pegar?"
Nas mãos agora eu tinha
Algo para matutar.
Como é que uma calcinha
Vai num limoeiro parar?
Pertenceria à vizinha
Dona do segundo andar
Ou à francesa que vinha
Em Fortaleza estudar?
De qual delas duas não sei
Com certeza precisar.
Sei que oferecida a achei
No limoeiro a se dar.
Assumo entanto que mais
E vou a você confessar
A mim muito mais me apraz
Calcinha a cueca encontrar.
Fértil minha cabecinha
Deu então de cogitar
Com muitos pés de calcinha
Um generoso pomar.
Resumo enfim o roteiro:
Absorto a imaginar
Fiquei o meu limoeiro
Esquecido de podar.
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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023
quarta-feira, 5 de outubro de 2022
terça-feira, 28 de dezembro de 2021
Íntimo poema inquiridor
E o presente desta dor?
É a ausência que clama, mor,
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
quarta-feira, 22 de setembro de 2021
MÃE
Eis-nos aqui, a sua descendência, diante da "falta que ama" a adensar-se pouco a pouco numa espécie de conta-gotas invertido a preencher-nos de mais falta a cada nova lágrima vertida. Eis-nos, a sua descendência, diante da falta do para onde ir, da falta colo matricial, da falta regaço absoluto, sempre à disposição e eternamente acolhedor. Eis-nos aqui diante da falta mãe.
Para mim, não há mais o distrair-se do desamparo a não ser na companhia de Jesus e Deus com Nossa Senhora passando à frente, como minha mãezinha recomendava nas despedidas. Partiu a mãe de um menino em cujas orações pueris estava, mais do que o pedido, a súplica para partir antes. Um caso edipiano clássico, eu sei. Mas minha Jocasta morreu e eu não me tornei cego. Então, porque ainda vejo, e agora mais complexamente do que via quando menino, sigo, muito menos sabido e um tiquinho mais sábio, com Jesus, Deus e Nossa Senhora à frente, sob os cuidados de minha mãezinha. E em sua honra e em seu louvor, hei de viver.
Falo não só em meu nome, Dona Ivone, mas no de suas filhas, de seus netos e netas, de seu bisneto. No final, amada e nobre matriarca, tudo há de ser mesmo muito bom para quem concedeu-nos a dádiva da vida. Os seus seguiremos com o exemplo de amor, dedicação e força que a senhora sempre foi. Ficaremos para preservar sua memória no “mais que humano em nós”. Obrigados, nobre senhora, muitos obrigados.
Segue o poema de dia das mães inspirado sobretudo na senhora, mãe.
neste dia
pra quem fia
e desfia
pela cria
alegria
pra maria
pra mairinha
pra meirinha
pra rosinha
pra carlinha
alegria
neste dia
mães Maria
segunda-feira, 30 de agosto de 2021
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
Com/contra Mário Quintana
deixa outro pedaço de laço
no abraço
não como no laço
pedaço e pedaço permanecem
pedaço e pedaço saem mais que pedaços do laço
saem pedaços abraçados
pedaços do laço do abraço
pedaços abraçolaçados
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domingo, 4 de abril de 2021
sábado, 27 de março de 2021
segunda-feira, 8 de março de 2021
Poema carnavalesco
quarta-feira, 29 de julho de 2020
SENZA RISCOPRIRE ALCUNA SPERANZA
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segunda-feira, 29 de junho de 2020
Há algum tempo, calava-me diante de argumentos a favor de aulas semi-presenciais, um meio que ensino à distância, ou quase. Diziam-me que, com o avanço da tecnologia, muito do que se fazia em sala presencialmente poderia ser substituído, com vantagem, por atividades on-line. Era o futuro. Vi-me na iminência de dar razão aos que denunciavam a obsolescência do estilo de aula tradicional. A pandemia chegou e nos isolou. No entanto, deu-me a entender que ter silenciado perante aqueles argumentos não foi boa opção pois nada é comparável a uma aula com corpo e alma presentes. Quando t(r)ocada com amor, aula é uma espécie de ritual sagrado, de dádiva adventícia na sua irrepetibilidade. Os vocacionados se preparam para ela desde dentro e para sempre. Curtem a espera, o encontro, o ler-se mutuamente a presença em muitos níveis. Gostam de partilhar o mesmo espaço físico, de vê-lo preenchido com a vida múltipla e variada em ação. Aula é um encontro sem igual que prepara conservando a nossa humanidade. Sou hoje defensor ferrenho desse encontro sagrado em que se celebram o saber sentir e o sentir saber.
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quinta-feira, 21 de maio de 2020
segunda-feira, 18 de novembro de 2019
SUMA TRADUÇÃO
que extraduz
quarta-feira, 23 de outubro de 2019
Vi prodígios de inteligência e intuição numa existência tumultuada pela Verdade. No caminho aberto pelo gigante, a cada papo e afago de alma, o topo oco de minha cabeça ganhava qualquer ou nenhuma direção. Exímio em tudo! Para quem o conheceu de perto, é mestre eterno a ensinar a líquida consistência do ser. Guardo-o em mim. Um zilhão de vezes: obrigado, Paulo Mosânio.
Com você, a alta cultura, pascalianamente despida do vaidoso manto nobiliárquico, dava voos rasos nas nossas cabeças, longe, muito longe do pomposo aparato da erudição balofa e sem propósito. Era em roupa comum e cotidiana, franciscanamente simples, que a nobreza generosa do seu espírito doava, com zelo e amor, o saber cultivado nos vãos luminosos da sua mente-coração. Com você, era o saber peripatético, o credo quia absurdum, a régua nominalista, o deus sive natura, o budismo moderno, os versos íntimos da mão que afaga e apedreja, os ademanes de ternura, a flor do lodo, o sagrado, o profano, o estado de perene poesia. E o gesto ostensivo do braço todo arrepiado.
Era assim, é assim, será assim, da cátedra à mesa de bar, ob-ligado a você, Paulo Mosânio.
sábado, 12 de janeiro de 2019
Flor de melancolia
pelos olhos da menina melancólica
que flores de melancolia
desabotoam
nos olhos
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segunda-feira, 29 de outubro de 2018
ANTILÓGICA DA MAIS-VALIA II
na barra dura do dia
a dia mais eu queria
bordado de poesia
bordado de poesia
ante toda vilania
momento epifania
bordado de poesia
bordado de poesia
num coração valentia
contra qualquer tirania
bordado de poesia
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sábado, 9 de junho de 2018
SÚMULA DE UM HOMEM DE NEGÓCIO
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quarta-feira, 6 de junho de 2018
Qual seria a palavra mais esculhambada da língua portuguesa?
Para produzi-la, a língua e a boca fazem tantos torneios que chegam à iminência de esculhambarem-se. São múltiplos pontos e modos de articulação: vogais alta e baixa, anterior e posterior, oral e nasal, arredondada e não-arredondada, consoantes oclusiva, fricativa, lateral e, para sua maior esculhambação, a palavra ainda conta com um ditongo nasal dificilmente encontrável em outro idioma. "Esculhambação" legítima mesmo só existe em língua portuguesa.
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sexta-feira, 18 de maio de 2018
terça-feira, 15 de maio de 2018
quinta-feira, 10 de maio de 2018
PARA DOXA
- Meu senhor, aceitaria?
- Não, muito obrigado! Eu não bebo.
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domingo, 8 de abril de 2018
É
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sexta-feira, 23 de março de 2018
sábado, 3 de fevereiro de 2018
quarta-feira, 31 de janeiro de 2018
terça-feira, 16 de janeiro de 2018
FAMÍLIA
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sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
RIMA POBRE
no poema
da palavra habilitada
a rimar
seja o que flor
amor ou dor
lançar fora do poema
por favor
rimar em al
por exemplo
é mal banal
original
é fazer o al
do canivete
mais que o do punhal
soar igual
substantival
a outro al
que ecoa
na pessoa boa
magoa
e é fatal
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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
SILÊNCIO
tantos por dizer assediam
que muito aborrece a profusão
do inchado de palavras e sentidos
cultua o profanado
silencia
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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
SONHO DANTESCO
veio enjaular
hércules-quasímodos
de um brasil multilado
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TEMPO
trabalho para o dinheiro
dinheiro para o trabalho
trabalho para o tempo
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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
SOBRE NOMES
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quarta-feira, 8 de novembro de 2017
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
ALIVE IN A LINE
em estado puro
celebração da substância
em estado bruto
em ti
sabem à vida
todos os sentidos
orbitante da tua feliz gravidade
louva
a carne que te gerou
e está a te gerar
a cada novo dia
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domingo, 14 de maio de 2017
DIA DE MARIAS (Ema Viana)
neste dia
pra quem fia
e desfia
pela cria
alegria
pra maria
pra mairinha
pra meirinha
pra rosinha
pra carlinha
alegria
neste dia
mães Maria
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quarta-feira, 3 de maio de 2017
NOSSO PAI QUE ESTÁ NO SEU (Ema Viana)
Guarda tua espada, destemido guerreiro.
Deixaram de ser as abstratas figuras
E não há mais dulcineias por quem lutar.
Recolhe-te, consternado, ao teu castelo
Provisório, reconhecendo-te velho.
Tens a pujança dos vinte
E teu corpo vencido denuncia a verdade.
Não fossem os espelhos,
Poderias imaginar-te a meio caminho,
Entre pujança e pungência.
No tempo de agora, desde o tempo de então, o tempo não parou, adensou-se mais e mais na infância sem fim do meu pai e o fez mergulhar no tempo profundo da hora absoluta.
Sensação esquisita a de não ter mais tempo para dizer a quem ouça com ouvidos de matéria humana “meu pai”.
-
quinta-feira, 9 de março de 2017
sábado, 26 de novembro de 2016
POESIA DO COTIDIANO
sem muita instrução formal,
confrontado com um
"tudo bem, seu Zé Cláudio?",
põe a pergunta noutra chave
respondendo macio e afiado:
Tudo é bom!
-
sábado, 6 de agosto de 2016
A GRANDE JOGADA (Ema Viana)
jogo jogado joga
jogado jogador
jogador de jogado
jogo jogador joga
e jogo joga jogo
jogando jogador
-
sábado, 30 de janeiro de 2016
A LUCINAÇÃO (Ema Viana)
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
ANTILÓGICA DA MAIS-VALIA I (Ema Viana)
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
DINÂMICA DA CONCENTRAÇÃO (Ema Viana)
outros não deixam de
outros ainda
às vezes sim
às vezes não
para que
os que nunca
continuem a
e os que sempre
não deixem de
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sábado, 26 de setembro de 2015
LEITURA (Ema Viana)
de ler sem parar
para ler
sábado, 29 de agosto de 2015
terça-feira, 7 de abril de 2015
quinta-feira, 1 de maio de 2014
MUSICORDANÇA (Ema Viana)
em musicordança se trança
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
ODISSEIA DO INSTANTE (Ema Viana)
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
CONVERSA FIADA (Ema Viana)
- Mestre, o que é o "eu"?
- O "eu" é antes de tudo um "ele" que "você" ilude e pensa muito conhecer.
-
sábado, 6 de julho de 2013
IRACEMA (Ema Viana)
Iracema da América
Resolve voltar
É piracema
Ipanema
Cinema
E televisão
Iracema
Não quer mais não
Ela vai voltar
É piracema
Iracema
Irá, irá
De volta
De volta pra lá
Pra sina daquele lugar
É piracema
Iracema
Será, será
Silêncio lírico
No Ceará
'Stata à beira-mar
A mirar
A mirar
É piracema
É piracema-ma-ma
É piracema-ma-ma-ma-ma...
-
quarta-feira, 22 de maio de 2013
domingo, 5 de maio de 2013
LIÇÃO DE LINGUÍSTICA (Ema Viana)
É coletiva e abstrata
Mas a língua viva
No concreto dela mesma
É a que passa pelo corpo
É a do cuspe privado do indivíduo.
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domingo, 7 de abril de 2013
ADEUS AO EU (Ema Viana)
Antes e sempre
Proferir-te como farsa
Eis a tua arte
Ser outro em cada canto
Diverso e mesmo para cada um
Fragmento e estilhaço
Depois e sempre
Ser do todo uma parte
Ou parte entre todos
Um todo talvez à parte
Ou quiçá
Parte sem do todo ser
Ou desejar
Eis a tua busca
Ver demais, a tua dor
Que potência no outrar-te
Sendo muitos
Sendo um
Sendo sendo
Nem um
Nenhum
Nada
Nada
Tudo
Todos
Uno
Uno
Uno
Uno
Dois de ti
Um no não
Um no sim
Noves fora
Tua saída
Mergulhar no todo-nada
Que é da vida
Um no Uno
Uno Uno
Enfim
-
terça-feira, 26 de março de 2013
ARTES (Ema Viana)
O tempo, dizer procura
Em vão
Do tempo a música é a arte
Que com o espaço comparte
Em vão
Signar tempo com espaço
Num vice-verso compasso
E não
Parecer algo impostura
Mal logra a literatura
Ou não
-
domingo, 30 de dezembro de 2012
MULHER (Ema Bessar Viana)
Da evidência do existir você
Que me leva, sei e não sei por quê,
Ao sabor de saber valer viver.
-
sábado, 6 de outubro de 2012
A SEMIÓTICA ENTRE A SENSAÇÃO E A INTELECÇÃO
-
terça-feira, 7 de agosto de 2012
NEGUIM ADOTA NEGÃO ou O MENINO É PAI DO HOMEM
E seu sangue assimilado
Dou fé entanto parecer
Raras vezes alcançado
O filho com o pai porque
Herdeiro sem ter herdado
Não nega neguim negão
Nem negão nega neguim
Com idêntica energia
Assim tão aparentado
Genoma nenhum faria
Se no pai do filho dado
O filho já não dado ia
Concebido no esperado
Não nega neguim negão
Nem negão nega neguim
Negará neguim negão?
Neguim negão nega não
Pois neguim negão será
E negão, neguim gagá
quinta-feira, 17 de maio de 2012
MACHADO ROSA CUNHA (Ema Bessar Viana)
e machado o velho dela prosa
o ser tão tão de dentro rosa cunha
e euclides o de fora testemunha
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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
METAMORFOSE (Ema Bessar Viana)
fez não fez
da ideia outra coisa
quarta-feira, 8 de junho de 2011
OS BAMBAS (Ema Bessar Viana)
osama
a bomba
nem
o bambo
os bambas
usamam
abusamam
ossamam
men
domingo, 22 de maio de 2011
ESCRITURA (Ema Bessar Viana)
o texto dela
equilíbrio
de ditos
de por dizeres
texto justa-medida
é esta
a sua escrita
não apuro formal
nem excelir de conteúdo
mas o com mestria
poética extemporânea
tem sabor a sua pena
à qual devoto bênção
humilde e celebrante
ela é
a quem
muito mais além
no quando
ela erra
ninguém
mas
ela nutre
na vertigem
da escrita
que ela erra
no dentro do dentro dela
alguém
salve, salve!
salve a palavra dela
palavra que é
no onde
ela duela
com o do eu
do ela mesma!
salve, salve!
celebro
o texto ela
anverso
do ela texto
-
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
O GATO (Ema Bessar Viana)
O gato
Melisma o silêncio
Reticencia o tempo
Agudiza o abismo
No mover-se
Seu olhar
Ri sinistro
Do estarmos
Entupidos de nada
E bastante comovidos
Indiferente
Seu dorso
Eriçado
Esfingia-se
Dócil e agressivo
Mas ainda
Indiferente
Seu rabo
Perscrutante
Conecta
Suprarrealidades
De borboleta e colibri
Indiferente
-
terça-feira, 9 de novembro de 2010
(IN)DEFINIÇÃO (Ema Bessar Viana)
Que há muito te descobriste ser.
Plurimorficamente te encruzilhas
Em vias de dever e de querer.
Em cada novo ponto da estrada,
Apresenta-se audaciosa ante ti
Outra sempre tenaz encruzilhada,
A que tua resposta é só: "resisti(r)".
Daí serem diversos os garcias.
No mínimo um que cotidiano age
Vivendo a vida a que o outro reage.
Adivinhar qual no correr dos dias
É aquele com o qual se interage...
Ah! Isto é grande e sacana sacanage.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
CABO VERDE BRASIL (Ema Bessar Viana)
Ergueram-se por sobre o oceano
Ligando dois povos que, de ano em ano,
Vão se tornando menos desiguais.
Uma mesma disposição os anima:
A de abolir relações verticais,
A de que entre homem e homem nunca mais
Viceje qualquer formação que oprima.
Do elevado propósito que os guia
Reúne-os igualmente a Fortaleza:
Ter em mira realizar algum dia,
Irmanado na língua portuguesa,
O quinto império de um povo-alegria
Que viva em plenitude a morabeza.
-
terça-feira, 15 de junho de 2010
PRESENÇA (Ema Bessar Viana)
Quando de vista te perco
Que tua presença se faz.
No esboçar-te a imagem
Âncora-perfume te ergo
Para os meus olhos de cais.
É quando toda em olores
Em vivo e vivo em cores
Tua presença fugaz.
TARDE AZUL (Ema Bessar Viana)
desmesura
do outrora menino
vadio e sem ninho,
não te recuses a pousar
vem, tarde azul,
o adulto te quer
de novo
viver
e em ti
re
pousar
ESTALIDO NA NOITE (Ema Bessar Viana)
NA TAL TERRA (Ema Viana)
tal terra
da boa vontade,
é sempre encontro
de diferenças, sem medo,
sem ortodoxias, sem pretensões
de qualquer altura.
Na tal terra da esperança,
é permitido viver pela graça do simples viver,
com o viver do outro.
Na tal terra da comunhão,
homem não julga homem,
ama assim pelo só exercício de amar.
Na tal terra da harmonia,
tudo é música a concertar almas reféns da nostalgia da perfeição.
Na tal terra da bem-aventurança,
grassa plena a fraternidade universal.
Na tal terra da consagração,
o agora instante de suave e doce congraçamento
q
u
e
r
-
s
e
eternizado.
-
sábado, 10 de abril de 2010
ADOÇÃO (Ema Viana)
De unirem-se em rara laqueadura.
Negaram então o espaço que enclausura
E fundiram-se por ser pouco o perto.
Pois que cada um andava descontente
E um do outro sabiam-se dependente.
Fez ver que seria enfim acertado
Darem-se uns aos outros por presente.
-
domingo, 28 de março de 2010
OFÍCIO (Ema Viana)
que vens de terras longínquas
tens uma certa linguagem
entrecruzar de línguas
falas do que falas
como quem cala
segredos
de faca
de ponta
responsável bisturi
de corte preciso
conciso
tua palavra somato-resvala
arde na epiderme
rasga carne
quebra ossos
tua palavra não cala
traspassa
de tantas línguas que dizes
por estrangeira a tua fala
tua palavra
trapaça
aprendiz das línguas que falas
mais que aprendiz
me deixo fazer nas palavras
que lavras
como falas
o que falas
agora
o falo
MERATRIZ
PERFEIÇÃO (Ema Viana)
o ovo impressiona
no que tem de acabado
o ovo não tem pontas
no ser ovo ovalado
carne e osso
calcificados
o ovo
é
nada mais que
ovo
mais que nada
ovo
até no seu escrito
sábado, 27 de fevereiro de 2010
A PALAVRA REDIVIVA (Ema Viana)
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
PASSAGEIRO (Ema Viana)
Larga o todo-dia-tudo-igual
Pára para não encontrar-te em confusão
De ser balança-de-dois-pratos
E viver a pesar a pesar apesar
O mundo não é um armazém
A despeito do muito que há em comum
E tu não vales o que o gato enterra
E queres dar-te importância
Colocando-te acima da ordinária existência
Não és sequer conhecedor de ti mesmo
E vens pretensioso dizer que me conheces
Deixa-te, isto sim, afogar nas sujas águas do cocó
Ou pula de um alto edifício do centro da cidade
Não encontras explicações, bem o sei
Mas também não há quem as encontre
Embriaga-te o curso das coisas
O fluir de tudo, sempiterno
Enquanto a tua alma se dilacera
E o teu corpo se deteriora
Continua
O correr das águas dos rios
O mar monotonamente vem despejar-se
Nas areias tantas de tantas praias
Dia e noite se sucedem
Continua o riso o choro
O amor o ódio o belo o feio
Deus e o diabo
Continuam
domingo, 1 de novembro de 2009
UTILITARISMO (Ema Viana)
Exponho meu coração.
Leiloá-lo, eis seu uso.
Ele: torto parafuso.
-
domingo, 25 de outubro de 2009
BALADA DE UM ESQUISOFRÊNICO MEGALÔMANO (Ema Viana)
os astros me vendo passar
cochichavam
interjectivos
"é aquele
aquele lá
pretensão a dele
querer irradiar luz semelhante à nossa
coitado pobre coitado"
também as trevas me vendo passar
"obscuro
fogo-fátuo
sim
tão pretensioso
pensa o vazio e é tão cheio
não é dos nossos"
solucionar-me no intermédio
buscando sempre
I M P O S S Í V E I S
-
AMEAÇA (Ema Viana)
Tanto tudo o que a ti peço
Mas aqui e agora confesso
Não me faças do vão sonho
Cessar o curso risonho
Que sou capaz e te esqueço
-