domingo, 14 de maio de 2017

DIA DE MARIAS (Ema Bessar Viana)

alegria
neste dia
pra quem fia
e desfia
pela cria
alegria
pra maria
pra mairinha
pra meirinha
pra rosinha
pra carlinha
alegria
neste dia
mães Maria

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quarta-feira, 3 de maio de 2017

NOSSO PAI QUE ESTÁ NO SEU (Ema Bessar Viana)

Há algum tempo o tempo concedeu-me a graça de perceber o descompasso abissal que o tempo erige entre o que o espírito quer e o que pode o corpo. Estava estampado nas feições do meu pai, que sempre fora uma força da natureza numa infância sem fim. Naquele tempo, o tempo parou para pensar e, do tempo pensado, extraiu-se a tempo o dom do sem tempo do poema para meu pai, que não lhe chegou às mãos a tempo. Creio, no entanto, que tempo há para doá-lo aqui para ouvidos de matéria humana.

Guarda tua espada, destemido guerreiro.
Deixaram de ser as abstratas figuras
E não há mais dulcineias por quem lutar.
Recolhe-te, consternado, ao teu castelo
Provisório, reconhecendo-te velho.
Tens a pujança dos vinte
E teu corpo vencido denuncia a verdade.
Não fossem os espelhos,
Poderias imaginar-te a meio caminho,
Entre pujança e pungência.

No tempo de agora, desde o tempo de então, o tempo não parou, adensou-se mais e mais na infância sem fim do meu pai e o fez mergulhar no tempo profundo da hora absoluta.

Sensação esquisita a de não ter mais tempo para dizer a quem ouça com ouvidos de matéria humana “meu pai”.

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