terça-feira, 8 de dezembro de 2009

PASSAGEIRO (Ema Bessar Viana)

Sai da casca
Larga o todo-dia-tudo-igual
Pára para não encontrar-te em confusão
De ser balança-de-dois-pratos
E viver a pesar a pesar apesar
O mundo não é um armazém
A despeito do muito que há em comum
E tu não vales o que o gato enterra
E queres dar-te importância
Colocando-te acima da ordinária existência
Não és sequer conhecedor de ti mesmo
E vens pretensioso dizer que me conheces
Deixa-te, isto sim, afogar nas sujas águas do cocó
Ou pula de um alto edifício do centro da cidade

Não encontras explicações, bem o sei
Mas também não há quem as encontre
Embriaga-te o curso das coisas
O fluir de tudo, sempiterno
Enquanto a tua alma se dilacera
E o teu corpo se deteriora
Continua
O correr das águas dos rios
O mar monotonamente vem despejar-se
Nas areias tantas de tantas praias
Dia e noite se sucedem
Continua o riso o choro
O amor o ódio o belo o feio
Deus e o diabo
Continuam