domingo, 17 de maio de 2009

IMIGRAÇÃO (Ema Bessar Viana)

Vez no longe sudeste
O homem antes nordeste
Em desaprumo em desatino
Vai viver sudestino.

CIRURGÊNCIA (Ema Bessar Viana)

À sombra de fartos e generosos galhos
De uma frondosa mangueira
Menino e menina brincavam
Brincadeira de faz-de-conta

Ele cuidava diligente
Da menina paciente
Enquanto 
Fármacos penetrantes
Recendiam
No preparo da hirta cânula
E da mucosa vaporosa
Para a infusão

Do êxtase do tato
No ato do regalo
Do conhecerem-se
De repente
Despertaram

Adultos intervieram em delicada cirurgência
Eram deles os pais
E sem bem saber por quê
Menino e menina levaram
Uma sova de não esquecer jamais

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BURACO NEGRO (Ema Bessar Viana)

foi tudo tão sem fundo
que o oco do mundo
nos tragou

foi todo tão luminoso
o caos gozoso
que brilhamos

foi tão oco o todo breu
que o brilho esmaeceu
e nos insulamos

foi enfim tudo tão sem fim
que agora em mim
é sempre amanheceu

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SONETO FALHO ou SÓ NOTO DOIS QUARTETOS (Ema Bessar Viana)

não atino a que deva atribuir
o excêntrico gosto por sonetar
mas sei que esta forma particular
trasmuta sublimando o que vivi

dá-lhe o acabamento necessário
extrai do vivido a forma pura
assim como o escultor a escultura
faz nascer do material precário.

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