domingo, 3 de novembro de 2024

VIDA

acontecimento mágico
que começa com um milagre
e termina com um escândalo

-
tanta é a eternidade
do instante
que o instante
da eternidade
insta
a idade eterna
do instante

-

sábado, 2 de novembro de 2024

CAETANEANDO (Ema Viana)

o certo é dizer que o certo é
do avesso do avesso do avesso
de certo avesso errado certo
ou não

Pleito

Tem fome de carniça o urubu
E todo seu devoto brucutu.
O tal youtuber não será eleito
De nossa Fortaleza o prefeito.
Não desesperem, amigas, pois 
O treze vencerá o vinte e dois.
Aquele que de mulher desdenha
Na cidade da Maria da Penha
Será solenemente derrotado
Tendo dele ou não o cu raspado.

-

P(h)onte

feito ave
linda e suave
quando paira
vejo-te, Maira
em voo breve
és graça, és leve.

os tantos anos de agora
são-te ainda leves.
como outrora,
naquela ave
que não breve
me habitou
ainda graças, suave.

-

Ex-passo

foi e não voltou
quando tava lá
lá era onde aqui lá tava
tempo de estar
entre mentes
estado fusional de lugares
em fazimento

-

domingo, 17 de março de 2024

ACADEMIA DA PERFEIÇÃO

A graça com que se move
A deusa da academia
Deslumbra a todos, comove
Mais do que tudo, inebria.

Do que ela bem mais formosa
Apareceu a desfilar
Outra moça, toda prosa,
A sucedendo no altar.

Como rodar é da roda
Certo outra delas virá
Num moda sucede moda
Ocupar-lhes o lugar.

-

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

DA LUA AO CHÃO

olhos postos na lua
passeava sonhos fabulosos
viagens intergalácticas
suaves voos de pássaro
braços de bem-amada
a inteiro envolver-me
num acalanto sem par.

súbito, os olhos me vão
da lua ao chão.
o pé direito
tenho-o imerso
em ignorada substância
de amarelo aspecto.

pisei (n)o cocô!
pisei (n)o cocô
e não sei que fazer
água por perto não vejo
não vejo pano ou sabão
com que me possa limpar.

pisei (n)o cocô
enquanto sonhava
pisei (n)o cocô
e estava descalço
pisei (n)o cocô
e não sei que fazer.

amiga, me diga:
amputo este pé
ou pisando (n)a merda
aprendo a viver?

P.S.: os parênteses vão para os puritanos patrulheiros do idioma; o poema, para os coiotes (nome do grupo literário dos tempos da faculdade).
-

GRANDE BORBOLETA

boca desdentada
lírica flor do caos
preenche o ruído com teu silêncio
profundo
mastiga sonhos matinais
ri
leve
perene
transversal
dúctil concede
recebe
beligera
depois gargalha abissal
deglute
digere
enfim
excreta tua doce elegia
buraco negro ancestral
-